domingo, 23 de março de 2014

TRABALHANDO A OBRA “O CAMINHO DO RIO” NA SALA DE AULA



Franciele Medeiros


  O trabalho foi desenvolvido com uma classe multisseriada do ciclo de alfabetização e possui treze alunos, sendo 5 do 1º ano, com 6 anos de idade, 3 do 2º ano com 8 anos de idade e 5 do 3º ano, sendo os alunos com as idades de 8,9,10,15 e 17 anos. Meus alunos apresentam níveis de aprendizagem diversificados. Em média, 50% dos alunos estão no nível silábico e os outros 50% encontra-se em mudança dos níveis de escrita silábico-alfabético para o alfabético.
  Quanto à progressão do aluno nos níveis de escrita é bastante particular, uma vez que, “a criança passa por avanços e recuos durante todo o processo de construção da escrita, ainda que seu desenvolvimento esteja diretamente relacionado com seu nível inicial de contextualização” (SILVA, p. 17, 2003). Para um maior aproveitamento das situações didáticas realizadas, procurei formar grupos de alunos que estavam nos níveis de escritas aproximados.
  O objetivo desta sequência didática foi utilizar o livro “o caminho do rio” para interagir literatura com assuntos presentes na vida do aluno; trabalhando nesse caso, a importância da água dos rios e também analisar a linguística de palavras escrita com R/RR.
  Iniciei os trabalhos explorando a imagem da capa e o título do livro “O caminho do rio”, provocando nos alunos a expressão verbal de seus conhecimentos prévios sobre o conteúdo abordado pelo livro.
  No segundo momento realizei a leitura na integra do livro apoiando-se nas ilustrações do texto. Em uma segunda leitura do texto os alunos iam comentando espontaneamente as imagens do texto, expressavam oralmente, o que achavam de cada acontecimento do livro.  Durante essa leitura eu ia fazendo relação do texto com o conhecimento que os alunos tinham sobre as características dos rios da localidade.
  Depois que exploramos todas as partes do livro e apreendemos o tema tratado no texto, pedi aos alunos que falassem o nome das personagens que apareceram no desenrolar da historia, e, eu ia escrevendo no quadro uma lista de palavras. Após os alunos ditarem as personagens, eu pedi que eles escrevessem no caderno as personagens, separando em duas colunas, uma com as palavras que tinham a letra R/RR e outra com as palavras que não tinham.
  Na segunda aula trabalhei com a turma o eixo oralidade. Num primeiro momento fiz a reapresentação do texto através da ilustração visual. E, em seguida os alunos iam participando recontando a historia com suas palavras, a partir do material lúdico.      
  Foi interessante o quanto os alunos se envolveram nesse momento. Com o auxilio do texto não-verbal a turma não teve dificuldade em recontar a  história, mesmo sem o apoio do texto escrito. É por situações como estas que percebemos o quanto o lúdico favorece a aprendizagem do alunado.
  No segundo momento levantei uma discussão sobre o porquê de a comunidade ter o nome Riacho dos Negros. Nesse momento, foi possibilitado aos alunos que sugerissem hipóteses sobre a origem do nome “riacho dos negros”, questionassem as possíveis causas desse nome, argumentassem em defesa de suas idéias, sempre respeitando as opiniões dos colegas.  Apesar de não termos chegado a uma conclusão precisa sobre a origem do nome as hipóteses levantadas foram bastante coerentes.
  No terceiro momento, ainda trabalhando a oralidade, procurei realizar atividades que favorecessem a apropriação do sistema de escrita relacionando pronúncia e escrita de palavras. Junto com os alunos listei todos os rios que tem na comunidade, enfocando o nome que as pessoas da comunidade costumam identificá-los. Depois retomei o texto “o caminho do rio” relacionando-o com as características dos rios locais, enfatizando a importância dos mesmos para a vida da comunidade.
  Os procedimentos dos trabalhos aconteceram interligados, sempre procurando dar continuidade temática. Na aula seguinte, fiz uma releitura do texto. A partir do texto escrito os alunos identificavam na ilustração lúdica as partes do texto que acharam mais interessantes. Nesse momento, os alunos iam listando no quadro os trechos interessantes, aqueles que ainda não dominavam o sistema de escrita copiavam os trechos do livro.
  É importante ressaltar o quanto a ludicidade favorece o processo ensino-aprendizagem do aluno. Mais uma vez faço menção aos estudos do PNAIC, quando na unidade 04, (Brincando na escola: o lúdico nas escolas do campo, 2012) podemos aprofundar nossos conhecimentos sobre o trabalho com o lúdico e comprovar que realmente a ludicidade estimula o desenvolvimento de diferentes habilidades expressivas e criativas (p.11).
    A análise linguística do texto foi trabalhada na quarta aula. Retomei a lista dos personagens do livro e, a partir da coluna das palavras escritas com R/RR foi refeito uma nova lista. Para explorar as hipóteses dos alunos para o uso do R e RR e trabalhar o uso da grafia de palavras com correspondências entre letras e seu valor sonoro, pedi que os alunos separassem as palavras novamente; dessa vez seria, uma coluna com palavras escritas com R e outra coluna com as palavras escritas com RR.
Nesse momento trabalhei com a turma a pronúncia das sílabas formadas por R e RR. Provocando nos alunos o levantamento de hipóteses quanto ao uso do R/RR. Eu ia escrevendo as hipóteses feitas pelos alunos no quadro; depois, pedi que eles registrassem no caderno. Num segundo momento dividi a turma em grupos, considerando os níveis de escrita próximos. Uma aluna leu o texto em voz alta. E, a partir da leitura, pedi que os grupos escrevessem as palavras do texto que tinha a letra R/RR, podendo ainda acrescentar outras.
  A atividade em grupo em que os alunos tinham que pensar para escrever palavras com R/RR possibilitou aos mesmos o levantamento de hipóteses quanto à escrita das palavras fazendo-os compreender que as palavras são compostas por unidades sonoras e que palavras diferentes podem ter unidades sonoras iguais.
  Para tornar esse aprendizado mais prazeroso e eficaz, propus a turma que escrevêssemos o nome de diversas brincadeiras que tivessem a letra R/RR. Dentre as brincadeiras citadas fizemos uma votação para descobrir qual seria a preferida pela maioria. E, a vencedora foi “pular corda”. Então, fomos praticar a brincadeira. Mas para tornar a brincadeira desafiadora resolvemos inovar e descobrir quem conseguiria passar mais tempo pulando corda com a boca cheia de agua ou segurando um copo com água.
Mais uma vez retomo aos estudos do PNAIC, unidade 04 (Brincando na escola: o lúdico nas escolas do campo, p.11, 2012), “as brincadeiras contribuem não só para o desenvolvimento cognitivo, mas também o motor, o social e o físico”. Quando consideramos as vivências dos nossos alunos, permitindo que o prazeroso, divertido, atrativo faça parte de nossas rotinas didáticas o mundo da aprendizagem ganha um sentido real. No contexto rural também deve ser assim, inovando e renovando, resgatando e incorporando as brincadeiras “às rotinas didáticas escolares, considerando que a aprendizagem pode se efetivar ludicamente” (p.11).
  Para concluir essa sequência didática, e, considerando as hipóteses levantadas pelos alunos, pedi que a turma escrevesse em um cartaz as regras de uso do R/RR. Depois fixamos as regras no mural da sala. E, para exercitar tudo o que aprendemos realizei um ditado de palavras com a letra R/RR. Corrigindo coletivamente o ditado, a turma pode repensar e reescrever as palavras.
  A avaliação se deu no decorrer do desenvolvimento das atividades, por meio da observação, do envolvimento dos alunos nas situações didáticas propostas e do progresso dos educandos no processo ensino-aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

  Enquanto professora do ciclo de alfabetização e cursista no PNAIC, tenho concluído: ser professor é uma arte que nos possibilita repensar, realizar, reavaliar, inovando sempre. Buscando a cada dia, qualificar-se para poder qualificar. E, é justamente isso que o PNAIC nos tem proporcionado, o resgate do antigo para construir o novo.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio a Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: currículo no ciclo de alfabetização: perspectiva para uma educação do campo: unidade 01. Brasília: MEC,SEB,2012.

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